sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

"Pasmava com esta vista!" - Pico do Itambé, 2024.

Nas férias de julho de 2024, tive a imensa alegria de voltar para Diamantina, em Minas Gerais, esse lugar tão caro ao meu coração, que sinto como lar. Mas, dessa vez, fui com um objetivo especial: subir pela primeira vez o Pico do Itambé e realizar alguns experimentos e medições climatológicas durante a trilha, para aprofundar meu aprendizado. O grande maciço azul que domina o horizonte e que tanto inspirou viajantes e naturalistas de séculos passados – como Saint-Hilaire, Langsdorff e Von Martius – estava lá, imponente e silencioso, aguardando minha aventura.

"[...] o céo se mostra retalhado por entre fendas de serranias, umas que vão às nuvens, outras mais baixas, umas vistas de perto e sobre as cabeças, negras e respeitosas; outras ao longe mostrando sua cumiada desigual, esfarrapada e toda azulada [...] Pasmava com esta vista! Mil reflexões enchiam de tumulto o meu espírito! Dizia comigo: respeitosas e soberbas montanhas, de que modo vos levantastes tanto sobre a superfície da terra?" - José Vieira Couto, em 1801.

Diamantina está a 1.113 metros de altitude. E o Itambé? Impressionantes 2.052 metros. Não é à toa que o entusiasmado cronista se deixava levar por reflexões tão profundas sobre essa paisagem. Assim como ele, também reflito, me emociono e me apaixono cada vez mais por essa terra.

Mas vamos ao ponto: decidi subir o Pico de uma vez por todas. Anos se passaram desde que o avistei pela primeira vez, formando aquela paisagem tão marcante no horizonte. Desta vez, não ficaria apenas olhando de longe. Juntei-me a alguns colegas e ao querido guia turístico Felipe, que me acompanha pelas redondezas de Diamantina há mais de 10 anos, e fomos.

No dia da subida, seguimos na valente Bandeirante do Felipe até a cidade de Santo Antônio do Itambé. E foi lá que vi o Pico mais de perto. Um gigante.

Começamos a subida e, honestamente? Achei que não ia conseguir. A trilha é desafiadora, mas minha determinação foi maior. Além disso, o fato de estar realizando um Perfil Topoclimático* durante a caminhada me ajudou. As pausas para medir os parâmetros necessários deram um alívio ao esforço físico.

Quando finalmente chegamos ao topo, a sensação era indescritível. Dormimos lá em cima, imersos no frio e vastidão das montanhas, e no dia seguinte iniciamos a descida, sempre acompanhados pela deslumbrante paisagem ao redor. Essa é mais uma dessas experiências que levo pra sempre na minha memória!

De volta a São Paulo, fui direto à faculdade devolver os materiais que havia pegado emprestado do laboratório. Também marquei uma reunião com o professor que me orientou durante a expedição para apresentar os dados que coletei. Durante a conversa, ele me deu uma sugestão inesperada:

— Em pouco mais de um mês acontecerá o XX Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada, em João Pessoa, na Paraíba. Por que você não escreve um artigo e submete para avaliação? Quem sabe não é aceita e pode apresentar seu trabalho lá?

Achei a ideia uma loucura. Tinha pouco tempo e nunca havia escrito um artigo para publicação. Mas, sinceramente? Falou em viajar, eu tô dentro! Decidi aceitar o desafio. Escrevi o artigo, submeti ao Simpósio e... adivinhem? Fui aceita!

Elaborei o trabalho intitulado "Perfil Topoclimático do Pico do Itambé (Serra do Espinhaço) - Município de Santo Antônio do Itambé - Minas Gerais, Brasil: Diagnóstico Preliminar" e embarquei para João Pessoa cheia de expectativas e gratidão.

No dia da apresentação, percebi que estava usando a mesma camiseta que vesti ao subir o grande Itambé. Talvez por coincidência, senti o mesmo nervosismo daquela subida. Mas, se o Espinhaço estava comigo, quem estaria contra?

A apresentação foi um sucesso, e ali percebi como as coisas se conectaram perfeitamente. Mais uma vez entendi que estou exatamente onde deveria estar. E, como disse meu professor:

— Quem diria que essa caminhada daria um caldo bom desses, hein? 

E deu mesmo!

Deixo aqui o link para leitura do artigo já publicado e também algumas fotos tiradas pelo meu amigo João Piuzana Rosa que marcaram essa experiência inesquecível. Aproveito para expressar minha gratidão aos meus colegas de aventura, ao guia Felipe, ao Professor Emerson e ao Laboratório de Climatologia e Biogeografia da USP, que gentilmente me emprestou o material necessário durante as férias. Valeu, galera!


*Nota de rodapé:
O perfil topoclimático descreve as variações climáticas em função das características do relevo, como altitude, declividade e orientação das encostas. Ele analisa como fatores topográficos influenciam elementos climáticos, como temperatura, precipitação e circulação de ar, sendo uma ferramenta valiosa para estudos da Climatologia e planejamento ambiental.






quinta-feira, 25 de julho de 2024

"E Agora, José? Para Onde?"

Depois de quase 10 anos retorno ao Blog pois, como era previsto, todos os efeitos dessa experiência não se passaram, e nunca irão. Sou alegre com isso.

Quando fiz o último post deste Blog com a ajuda de minha mãe, eu estava prestes a fazer 12 anos, hoje estou quase com 21. Apesar de anos terem passado, anos estes muito importantes na construção dos seres que somos, toda a minha curiosidade, amor e alegria por viajar que existia na Bruna Itinerante de 2014, ainda está aqui, e pretendo ir com tudo isso até o último momento desta vida.

Acho importante registrar aqui alguns marcos das coisas que aconteceram nestes últimos tempos. Ao final de toda esta viagem retratada no Blog, (mais uma vez) a minha mãe apareceu com uma pergunta. Daquelas perguntas dela, que nunca são simples e que de alguma forma, elas sempre têm a capacidade de mudar mais do que o que posso imaginar no momento em que a ouço. A pergunta era: "Em qual cidade do Brasil, das que a gente conheceu, você gostaria de morar por um ano?".

Ouvi isso aos 11 anos e aos 11 anos escolhi: Diamantina - Minas Gerais - Brasil. Por quê? Só o tempo foi capaz de me dar essa resposta. 

Hoje já sei qual é a resposta mas antes, por mais que amasse de fato essa cidade, me questionava honestamente: Por quê não escolhi uma cidade perto do mar? Entendi, depois, que as cachoeiras que viriam para me responder.

Nos mudamos pra Diamantina e ao invés de um ano, minha mãe morou por seis e eu ainda fiquei por mais um por conta própria, totalizando sete anos. Neste tempo conheci as pessoas mais incríveis que pude, e sou grata por todas as relações humanas e não humanas construídas nessa cidade, além disso, a paisagem me disse muita coisa, a Serra do Espinhaço conversava comigo, e amadureceu comigo. Conforme eu ia crescendo, talvez por percepção, a Serra ia se tornando maior e mais linda, imponente, forte. Me sentia segura próximo à ela. Conheci todos os cantos que pude, mesmo depois da viagem ainda tinham muitas coisas pra conhecer, e mesmo depois dos sete anos de moradia, ainda tem. Enfim, a paixão era grande e nunca foi platônica, era recíproca.

Quando começaram as demandas com relação aos vestibulares e universidades, não estava muito preocupada com isso, sabia que queria fazer mas não sabia o que queria fazer. Engraçado... Era tão óbvio o tempo todo. 

Estava distante da minha mãe mas estava feliz na Terra Dos Diamantes então pensei em ficar no meio do caminho, escolher uma Universidade que ficasse próxima de Diamantina e também de São Paulo, entretanto, desde muito cedo aprendi que o meio do caminho não funciona, ou fica no mesmo lugar ou se joga na estrada. Sempre fui mais adepta à segunda opção. Mas ainda estava confusa.

Pulei o Exame Nacional Do Ensino Médio (ENEM) por um ano e o fiz no próximo, independente de onde, o meu objetivo era ingressar em uma Universidade Pública através do Sistema de Seleção Unificada (SISU). As opções de escolhas de curso foram muitas: Jornalismo, Biologia, Psicologia, até Arquitetura cogitei. Mas desde essa viagem contida nesse Blog, meu desejo sempre foi viajar cada vez mais, e escolhi aquilo que podia me ensinar o que ver, o que buscar na paisagem, o que poderia me dizer como entender, pelo menos em parte, o Planeta Terra. Aquilo que poderia me explicar o por quê as coisas estão aonde elas estão. Escolhi a Geografia, e é possível que das várias escolhas que já fiz, essa tenha sido a melhor da minha vida.

Ingressei na Universidade de São Paulo aos 18 anos e é ali, em 2022, que a nova aventura começa! Exigindo alguns esforços como a despedida, terror de muitos e rotina de outros, me joguei na estrada mais uma vez, e agora era para novamente começar uma nova história. Confesso que cheguei sem saber o que gostaria de estudar, fui aberta aos novos conhecimentos e acontecimentos, porém, mais uma vez repito: Engraçado... Era tão óbvio o tempo todo. 

A paixão pela Serra do Espinhaço, por Diamantina e pela Geografia era e ainda é muita, eu só precisava encontrar aquilo que fizesse a conexão entre esses três. O primeiro ano na Faculdade não foi fácil, não sentia que era exatamente aquilo, e sempre precisava voltar para Diamantina para colocar as coisas no lugar. Até que um tempo depois, algumas matérias começaram a se mostrar mais interessantes e capazes de fazer essa conexão. Porém foi a Climatologia - "Ciência que desvenda os mistérios do clima, revelando padrões e tendências que moldam nosso planeta, nos proporcionando uma compreensão profunda do ambiente em que vivemos, possibilitando previsões de mudanças futuras, e conteúdo necessário para enfrentar os desafios das mudanças climáticas." - que me convenceu que eu estava no lugar certo e que eu poderia preservar aquilo que amo.

Durante minha viagem em 2014, encontrei muitas fontes de inspiração que me fizeram amar profundamente o país em que vivo. Sempre senti que tenho um propósito neste mundo e que estou exatamente onde devo estar, no momento certo. Cada escolha que fiz ao longo do caminho me trouxe até aqui, e não é possível imaginar ter tomado decisões diferentes. Como Paulo Coelho descreve, essa é a minha Lenda Pessoal. Estou aqui por causa do Espinhaço.

Essa jornada despertou em mim uma mistura de medo, alegria, ansiedade, curiosidade e, acima de tudo, amor. Retornar a este Blog após tantos anos reflete esses sentimentos. Alguns dos mistérios da vida só serão desvendados com o tempo, mas estou segura e confiante neste processo.

É bom estar de volta! 😉

Serra do Espinhaço - 2014. Foto: C. R. Malaquias