quarta-feira, 30 de julho de 2014

O Professor e o Aluno

O professor é um modelo pra muita gente.
Mas os professores são pessoas comuns que procuram suas próprias respostas.
Então o único modelo que cabe é o de realizar bem o seu ofício.
Seja num dia ensolarado, chuvoso ou enevoado.

Afinal, todos enfrentam dificuldades, todos os dias.
E muitos, inclusive os alunos, não são valorizados.

Tenho visto crianças e jovens levantar de madrugada e/ou caminhar 6 km, descalços, pra conseguir estudar. Tenho feito trilhas no Cerrado, e encontrado suas pegadas pelo caminho...

Aliás, os estudantes, na minha opinião, é a categoria mais desvalorizada do país.
Seguida dos BONS professores.

Porque, digo por mim, já encontrei muito aluno que serve de exemplo.
E já encontrei alguns professores bons e
muito professor ruim.



terça-feira, 22 de julho de 2014

Volta às Aulas

Meu caminho pelas escolas de Minas Gerais está chegando ao fim.

A última cidade em que estudarei pelo Estado, provavelmente, será a maravilhosa Diamantina, que conheci no ano passado nas férias de julho e hoje, um ano depois, sou aluna em uma das cidades históricas que mais gosto. Aliás, quem não conhece o norte de Minas não sabe nada sobre Minas.

Aquele bom e velho "frio na barriga" tomou lugar nos últimos dias. Quem pensa que  acostumada com essa constante mudança de escola, muito enganado. Enganado mesmo! Cada início é um desafio, interno e externo, que começa com o medo de não ser bem recebida e vai até o momento muitas vezes triste de deixar o que foi conquistado.

Minha mãe fez uma caminhada que levou o dia inteiro até o Pico do Itambé, em Capivari.
São 2.052 m pra se chegar até lá em cima, fora os muitos quilômetros de estrada de chão e trilhas no meio do Cerrado. É um gigante do Espinhaço, cheio de história, que foi ponto de referência pra índios, bandeirantes, escravos fugidos, tropeiros, garimpeiros, naturalistas, pesquisadores, aventureiros e um sem fim de nômades e viajantes desde a pré-história, durante o ciclo do ouro e do diamante e até hoje.

Somos, eu e ela, também nômades e viajantes, e também buscamos por referências no caminho.
Quando voltou suas pernas doíam e os seus olhos brilhavam.

Acho que o Pico foi um desafio, interno e externo, pra ela. Acho que, naquele dia, em meio a pesada cerração e a chuva muito fina, enfrentar o Itambé tenha dado um belo "frio na barriga". Talvez, naquele dia, além das belas imagens que capturou em sua câmera, minha mãe tenha deixado um pouco dela por lá.

Eu também deixo um pouco de mim pelas escolas que passo e nas amizades que faço.

Acho que a conquista do Conhecimento é como a conquista de um Pico bem alto, 
de onde se vê tudo, 
por todos os lados. 

Tudo que os olhos do corpo e os olhos da alma conseguem alcançar.


Pico do Itambé - Capivari - MG



sexta-feira, 18 de julho de 2014

Capivari: Uma Experiência Emocionante

Esse post deveria se chamar "Volta às Aulas".
Afinal, o semestre já começou e a primeira semana já aconteceu.
Mas, ao contrário da maioria, a minha experiência de aprendizado foi outra.

Estava em Capivari, região do Serro, Alto Jequitinhonha (MG).
É neste lugar que se localiza o Pico do Itambé, um dos pontos mais altos da Serra do Espinhaço.

Mas antes de falar dessa maravilha da natureza, quero falar da maravilha de pessoas desse lugar.

Em Capivari não existe pousada nem restaurante, e a forma de ficarmos no Distrito é nos hospedando no chamado "Receptivo Familiar". Que na verdade se resume em diárias com "quarto e café" e a encomenda das refeições.

Eu nunca tinha passado por essa experiência, ficar dentro da casa de pessoas que não conhecia.
Misturando meus hábitos e costumes de cidade grande com os hábitos e costumes do interior.
Mas foi a coisa mais deliciosa que experimentei nessa viagem.

Chegamos no domingo e já na porta conheci Taciane (10), Tais (15) e Tatiele (13).

Nos hospedamos na casa delas, e logo a mãe (Maria) veio nos preparar o almoço e mais tarde conhecemos o pai (Genézio). Adoramos a comida feita no fogão à lenha, que se tornou o ponto de encontro da casa simples, mas muito acolhedora.

Na segunda-feira as aulas começaram e todas foram à escola bem cedinho.
Eu fiquei esperando ansiosa pra brincar, porque já havia conquistado três grandes amigas.

Enquanto minha mãe realizava o trabalho dela, subindo e descendo a serra em longas caminhadas.
Eu brinquei, conversei e dei risada até não poder mais.
Não tinha celular nem internet, mas tinha cachorro, gato, coelho, galinha, pintinho e gente de qualidade.

Pena Capivari não ter escola depois do quarto ano, senão eu mesma queria estudar lá.
As mais velhas seguiam com ônibus escolar pra Milho Verde, e como ficaríamos poucos dias, decidimos que não faria a escola neste período.

Então, nessa primeira semana, eu aprendi (de novo) o valor de uma amizade pura e verdadeira.
Aprendi a me adaptar (e gostar) de me misturar com outros ambientes, culturas e pessoas.
Aprendi que mais importante que ter uma boa escola, é ter mesmo uma boa família.

E por mim eu não ficava mais em pousada.
Experiência incrível.

Obrigado, família Cunha.
Saudades!!!

Taciane, Tais, Tatiele, Adrielly e Bruna.


















Na bagagem, a cidadania.

A Outra Educação

Existe um lado da formação de um cidadão que falei muito pouco aqui.
A escola é importante, e escola sem qualidade mais prejudica do que contribui.
Não adianta prédio sem professor.
Não adianta professor sem preparo.
Não adianta preparo sem material.
E não adianta ter tudo,
E não ser nada.

Eu posso até não colocar a minha vida nas mãos de uma escola e de um professor qualquer.
Mas o que dizer da Educação que recebemos em casa?

Tenho visto muita coisa, conversado com pessoas, pelo caminho e em São Paulo.
E, confesso, o abismo é grande.

Se de um lado eu percebo a carência, tanto material como humana, pelas novas escolas e lugares que conheço. De outro, mais grave, confirmo a miséria que toma conta de uma boa leva de "colegas" dos quais ainda tenho alguma notícia.*

Se de um lado falta, do outro há excesso.
E fico cada vez mais chocada com o que escuto de vez em quando.

Talvez, se eu não tivesse realizando essa experiência, me tornasse mais uma nessa massa sem forma.
Talvez, se não conhecesse outras realidades, eu também não notasse esse "nada" sem personalidade.
Talvez, se minha mãe não estivesse em cima de mim 24 h, eu também preferisse ser igual.

Daí o valor que dou à Educação que recebo "dentro de casa".
E "casa", no meu atual contexto, é o quarto de cada pousada.
E o meu quintal, hoje, é do tamanho do Brasil.

De nada me valeria uma escola conceituada, cara e que me preparasse pra Universidade, se a convivência no interior do prédio, por trás dos muros, com os colegas, geram experiências vazias, carentes, empobrecidas.

E nesse aspecto da formação de um cidadão, pode ser a família que não está fazendo bem o seu papel. Neste ponto, nenhuma escola, da pior à melhor, poderá ser responsabilizada.

Cada um traz a realidade particular ao convívio coletivo.
Se é assim, o problema maior não é a falta de recursos materiais.
Mas a pobreza do espírito.

(*) A exceção, felizmente, existe.
      E estes continuam sendo, perto ou longe, os verdadeiros amigos.


quarta-feira, 9 de julho de 2014

Brasil Deu Vexame

Eu tenho andado por muitos caminhos em Minas Gerais.
Muitos deles construídos por escravos.
Eu não quero depender dos outros pra ser feliz.
O meu caminho eu mesma faço.



Aula de Vida


Teatro Mágico




sexta-feira, 4 de julho de 2014

Pedra Pintada: Escola Viva

O Espinhaço recebe uma série de nomes por onde passa. 
Na Serra do Caraça fiquei muito dias sem celular, sem internet e sem escola.

Estamos de férias, mas o meu aprendizado não acaba. 
A minha experiência não acaba.
E a diversão também não.

Nesse post destaco um dos passeios mais interessantes que fiz no "Caminho dos Diamantes", pois eu voltei no tempo e me senti um verdadeiro "homem das cavernas", fiquei no meio do nada com abelhas assustadoras, marimbondos, e uma vista linda do horizonte de um lado, de outro um paredão com muitas pinturas rupestres

O tesouro, neste caso, foi a arte que encontrei na Vila Colonial de Cocais, onde visitamos o Sítio Arqueológico da Pedra Pintada.

"Diversos povos, de épocas distintas e diferentes tradições culturais, frequentaram o local e fizeram nele suas inscrições, sobrepondo-as umas sobre as outras, cada qual com seu estilo e características próprias. Segundo os arqueólogos, as pinturas, com idades estimadas em 7000 anos, não são apenas decorativas, mas uma manifestação de rituais mágicos relacionados a natureza e a caça.

As 122 pinturas foram feitas com pigmentos minerais em vermelho, amarelo, ocre, negro, branco e alaranjado, divididas em três painéis, onde predominam os animais: mamíferos (principalmente macacos e veados), peixes, aves, aracnídeos, além de armas com lanças e ponta de flechas. Os desenhos foram executados com as mãos ou com pincéis."*

Naquela época não tinha escola, como será que eles aprendiam as coisas?
E como até hoje são capazes de ensinar?

Sítio Arqueológico Pedra Pintada
Escola Viva 
Amei.

(*) Dossiê de Tombamento do Sítio Arqueológico Pedra Pintada. Barão de Cocais: Prefeitura Municipal: 2006

Pedra Pintada - Cocais
Barão de Cocais - Minas Gerais

















Detalhe Arte Rupestre Pedra Pintada
Cocais - Minas Gerais

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Espinhaço - A Cordilheira Brasileira

Você sabia que no Brasil nós temos Cordilheira?

Alguém aprendeu isso na escola? Se aprendeu, aposto que esqueceu.
Falo isso porque quando temos professores e aulas sem criatividade, sem envolvimento, sem competência, o conhecimento entra por um ouvido e sai pelo outro. Simples e cruel assim.

Em um mesmo post vou demonstrar o motivo que me fez afirmar que os professores, na maioria dos casos, eram desqualificados. E de quebra apresentar, pra quem ainda não conhece, a Serra do Espinhaço.

Essa imensa cadeia montanhosa que vai de Minas Gerais até a Bahia foi declarada pela UNESCO como Reserva da Biosfera. É a coisa mais linda de se ver de perto e ao longe enquanto viajamos. Todo o seu corpo divide a Mata Atlântica do Cerrado, divide paisagens, espécies, culturas e pessoas, em território brasileiro.

É tanta natureza, geografia, história e arte a céu aberto, que o corpo que tudo divide me completou.

Aprendi tanto olhando, ouvindo e vivendo que aposto, de novo, que nunca mais vou esquecer que existe, o que é, como é, e a importância da Serra do Espinhaço.

Aprender só com o intelecto é muito vazio de experiência; é preciso aprender com todos os sentidos também. O Conhecimento, dessa maneira, entra na gente como se fosse o ar que respiramos.

Eu poderia dizer aqui que tive uma série de professores que falavam o português incorreto.

Eu poderia dizer aqui que tive professores que pularam tantas coisas interessantes nas matérias, que pelas aulas que davam, acho mesmo que nem eles sabiam que aquilo existia.

Eu poderia, ainda, detalhar aqui, como faz um professor pra tirar qualquer estímulo de aprendizado de um aluno.

E ainda poderia esclarecer, aqui, o terror que é ver um professor falando palavrão, gritando e mandando um aluno calar a boca.

Eu poderia dizer tanta coisa aqui, mas quero que se registre apenas uma coisa, o fato que nem me lembro mais o nome de nenhum deles. E nem faço questão, porque nenhum deles, por incompetência ou omissão, acrescentou Conhecimento de verdade em minha vida.

Quanto ao Espinhaço, esse gigante de paredões prateados e picos dourados, este sim, eu nunca mais vou esquecer. Sua grandiosidade sem palavras me ensinou mais que um semestre inteiro nas salas de aula, porque me fez ver, conhecer e experimentar o verdadeiro Conhecimento.

Estou pela primeira vez apaixonada.
Estou apaixonada pela Cordilheira Brasileira.

Bicame de Pedra - Catas Altas
Minas Gerais - Brasil

Serra do Caraça - Caminho do Mato Dentro
Minas Gerais - Brasil






quarta-feira, 2 de julho de 2014

Jornal Metro

Mais uma vez minha narrativa pessoal foi matéria em destaque na mídia.

O jornalista Carlos Minuano publicou hoje uma reportagem sobre minha experiência nas escolas de Minas Gerais. De novo tive a oportunidade de falar como me sinto e de novo encontrei alguém que se interessou pela minha história.

Se bem que esse papel deveria ser da escola, mas parabéns à mídia.

* A primeira reportagem foi feita pelo jornalista Paulo Saldaña para o Jornal "O Estado de São Paulo", publicada em 28/04/2014 no Caderno de Educação. Veja aqui no Blog no histórico das postagens.

Jornal Metro - 02/07/2014

terça-feira, 1 de julho de 2014

Música, Narrativa e Protagonismo


"Hei você que tem de 8 a 80 anos
Não fique aí perdido como ave
sem destino
Pouco importa a ousadia dos seus planos
Eles podem vir da vivência de um ancião
ou da inocência de um menino
O importante é você crer
na juventude que existe dentro de você
Meu amigo meu compadre meu irmão
Escreva a sua história pelas suas próprias mãos

Nunca deixe se levar por falsos líderes
Todos eles se intitulam porta vozes da razão
Pouco importa o seu tráfico de influências
Pois os compromissos assumidos quase sempre ganham
subdimensão
O importante é você ver o grande líder que existe 
dentro de você
Meu amigo meu compadre meu irmão
Escreva a sua história pelas suas próprias mãos

Não se deixe intimidar pela violência
O poder da sua mente é toda sua fortaleza
Pouco importa esse aparato bélico universal
Toda força bruta representa nada mais do que um sintoma
de fraqueza
O importante é você crer nessa força incrível que existe
dentro de você
Meu amigo meu compadre meu irmão
Escreva a sua história pelas suas próprias mãos"

(Zé Geraldo - "Como Diria Dylan")

O que é a "Realidade"?

Depois de dias mergulhada nas serras mineiras, aprendendo com minha mãe sobre minerais, plantas e animais, mais forte tenho o sentimento de que pelas escolas que passei ninguém liga mesmo para os alunos. Do contrário eu teria aprendido muito mais por lá.

Sobre isso, eu não quero falar aqui do que falta, mas do que sobra.
E o que sobra, sempre, é a nossa realidade.

A minha realidade, por exemplo, é viajar acompanhando minha mãe no seu trabalho.
É entrar e sair de escolas diferentes até o final do ano.
É correr atrás de informação sobre as matérias.
É correr atrás de diretor pra me arrumar livro.
É correr atrás de horário de aula e dias de provas.
É pensar nos posts pro blog.
É fazer e deixar amigos.

Bom, acho que neste caso ninguém ligou pra mim porque a realidade é uma coisa meio igual pra qualquer um. Muda a forma, mas não muda o fato. Cada qual com suas obrigações e prioridades, o seu corre-corre, os seus interesses e desinteresses, noites de sono, sonho e luz do dia... Todo mundo achando que faz a sua parte porque levanta e vai trabalhar...

Mas quando a responsabilidade de um é preparar o outro pra realidade da vida, é melhor repensar como cada um está fazendo isso. Ou não é isso que está na LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação?

Vamos lembrar:

"TÍTULO II
Dos Princípios e Fins da Educação Nacional

Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho."

Afinal, a realidade é uma escolha ou uma obrigação?
Pra mim, o Saber e o Aprender são vias de mão dupla.